quinta-feira, 21 de julho de 2011

Politicamente Incorrecto (3)

Fundação Calouste Gulbenkian

FUNDAÇÕES E ORGANISMOS AFINS

 Tenho a impressão que Portugal deve ser o país onde haverá  mais Fundações e Institutos por metro quadrado do que em outro lado qualquer. Mas afinal para que poderão servir estas instituições? Em princípio, têm duas origens distintas: umas são públicas e outras são privadas mas, o seu objectivo deveria ser o mesmo, isto é, instituições sem fins lucrativos e que pudessem contribuir para a melhoria do Conhecimento, das Artes, da Ciência e Investigação Científica, da Defesa de Causas Sociais enfim,deveriam ser a vanguarda dos Valores e das Ideias com que as Sociedades se desenvolvem e se tornam mais solidárias e humanas.

Claro que, como ajuda do Estado a estes nobres objectivos, beneficiam de inúmeras benesses e facilitismos que deste modo, além de contribuirem para o seu funcionamento também representam o reconhecimento devido ao seu trabalho.

Posta a questão nestes termos, parece tudo muito altruista e belo mas, será que é mesmo assim que as coisas funcionam? Claro que não.

Se os Institutos Públicos são locais priviligiados para a colocação dos amigos e obtenção de mordomias de outro modo difíceis de conseguir, se a maior parte das suas acções é perfeitamente dispensável à sociedade e por vezez conflitual entre si, se na relação deve-haver ficam muito mal na fotografia, só há um caminho a ser trilhado: reestruturar e melhorar o que vale a pena e extinguir todos os outros, o mais rapidamente possível.

Quanto às Fundações, falo agora das privadas, tudo fia mais fino. Hoje em dia qualquer bicho careta lega em testamento ou cria mesmo em vida, uma Fundação, algumas mesmo com um capital miserável e imediatamente toca de se encostarem ao Estado, usando todo o jogo de influências que parece que agora será criminalizado (será mesmo?) para o efeito. E é bem fácil! Primeiro cria-se a Fundação e depois arranja-se maneira de se fazer um ou mais protocolos com o Estado para que seja este a pagar, afinal de contas, o âmbito das suas acções! É a galinha dos ovos de ouro! Só será preciso mais uma pedra de toque para que o quadro fique completo que é o discurso anti-Estado, que o Estado gere mal os seus dinheiros, que deve haver menos e melhor Estado mas, já agora, venha de lá a massaroca...

Fundação, é a Fundação Calouste Gulbenkian. Um verdadeiro oásis e um farol no que deve ser, de facto, uma Fundação. A Gulbenkian dá, cria, subsidia, comparticipa, inova, mantém e tudo sem ser o Estado a pagar as actividades por ela desenvolvidas! Bem pelo contrário, inúmeras vezes é a Gulbenkian que paga as necessidades doa serviços públicos!

Pela mesma razão que atrás invoquei a propósito dos Institutos, também nesta área se deve separar o trigo do joio, mas há tanto joio mascarado de trigo...e tanto lobby de pressão instalado, que será bem mais difícil usar a vassoura.


Champalimaud Centre

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Politicamente Incorrecto (2)


Hospital de S. José
SAÚDE

Há por aí uns arautos que dizem defender o Serviço Nacional de Saúde mas, de há muito a esta parte, tanto PS como PSD/CDS se têm multiplicado em iniciativas que mais não visam senão a sua destruição. É bom não esquecer que antes do dia 25 de Abril de 1974, só uma parte reduzidissima da população tinha acesso pleno a cuidados de saúde fornecidos pelo Estado, já que a maioria da população tinha que os pagar do seu próprio bolso.

Assim, há que terminar com esta presunção de “todo o cidadão ter direito a uma Saúde gratuita”, porque de outra forma mata-se a galinha dos ovos de ouro. E vai daí, toca a começar por algum lado. Com o compadrio da Ordem dos Médicos começou por se tocar num dos aspectos fundamentais: o “Senhor Professor”, quando Primeiro-Ministro, acolitado por essa visionária que foi Ministra da Saúde, resolveram implementar os célebres numerus clausis de acesso à profissão, que hoje em dia põe à vista de todos, as suas consequências.


De seguida, mais uma machadadazinha ao mudar-se a designação de Serviço Nacional de Saúde para Sistema Nacional de Saúde, de modo a desta maneira, poderem ser englobados os privados, neste conceito abrangente. A seguir, vem a alteração de se passar da expressão “gratuito” para a expressão “tendencialmente gratuito” ou seja, por outras palavras, tendencialmente pago!

Vem também mais uma peça do puzzle da destruição que foi o acabar-se com as Carreiras Médicas e tudo o que de bom se passou no nosso País na área da Saúde. Coitado do saudoso Professor Miller Guerra, entre outros, subscritor do célebre relatório das carreiras médicas que esteve na génese da criação do SNS!

Mas como ainda não estivessem satisfeitos, resolveram transformar os Hospitais em EP’s (Empresas Públicas), como se a Saúde fosse um negócio (que pelos vistos até é) e entregar a sua gestão a indivíduos que a primeira coisa que fizeram foi quintuplicar os ordenados e as mordomias dos gestores, bem como o seu número e colocar nesses lugares quem de Saúde pouco percebe e os que percebem alguma coisa, percebem-na pela parte do vil metal, esquecendo-se que no meio de tudo está o doente que não é propriamente um parafuso ou uma porca que se fabrica em qualquer vão de escada.

Mas há mais! Resolveram criar critérios de eficiência (que pelos vistos só têm aplicação nos serviços ainda públicos), que têm levado, por exemplo, ao encerramento de Maternidades, com o argumento de que com menos de 500 partos por ano, os médicos que aí trabalham não podem adquirir a experiência necessária ao exercício do seu mister. Assim, toca a fechar as Maternidades mas, ao mesmlo tempo também se aprova o alvará que permite que nesse mesmo local possa funcionar uma Maternidade privada! Será que os Homens começaram a parir para que o número de partos aumente?

Agora são as chamadas parcerias público-privadas, que têm levado o País à ruína e algumas das mais importantes são as da área da Saúde, são os constrangimentos salariais que levam ao abandono maciço dos médicos especialistas das unidades em que trabalham e à desmotivação dos que vão ficando. Agora já se fala abertamente, de encerrar serviços e contratá-los com privados, fazendo com que o Estado gaste duas vezers, ou então, o que é mais grave, é pôr cada um a pagar a sua saúde. Só quem nunca esteve verdadeiramente doente é que pode sequer imaginar que o comum dos mortais tem posses para custear as suas despesas nesta área. Para vos dar um exemplo, infelizmente tão frequente, basta lembrar o custo do tratamento de um queimado!

Enfim, muito ainda há para ser dito a este respeito mas, ficará para uma próxima oportunidade. Por agora já existe matéria suficiente para que se possa reflectir sobre aquilo que se pretende fazer à Saúde em Portugal.

Hospital da Luz

sábado, 9 de julho de 2011

Politicamente Incorrecto (1)


Escola Primária Nº1, a primeira Escola Pública criada em Portugal após a implantação da República, com o apoio da Maçonaria.
EDUCAÇÃO


Hoje vou iniciar um conjunto de textos que já tenho pensado há uns tempos e que intitulo “Politicamente incorrecto” por apresentar uma forma de ver os assuntos, em contra-corrente com o que é o discurso actual mas, com o avançar dos anos, já me posso exprimir sem qualquer constrangimento ou receio de ser apelidado de isto ou daquilo. O meu tempo de vida e a minha conduta falam por si e, por isso já não tenho de provar nada a ninguém. Vamos então ao tema de hoje.


Não tenho nada a ver com a Educação mas pertenço a uma família de professores e, no meio deles tenho vivido, pelo que assisto a todas as suas angústias e frustações, a todos os seus temores e impotências, a todas as suas revoltas e a todo o seu cansaço.


A minha primeira noção é de que o sitema de ensino do chamado Estado Novo (ensino primário, liceal e técnico) era excelente. Estava bem estruturado, toda a gente sabia qual o seu lugar dentro do referido sistema e tudo funcionava com regularidade. Em relação aos tempos de hoje, haveria que fazer duas alterações básicas fundamentais: modificar os conteúdos das disciplinas de História e de Português, por motivos óbvios e adaptar os novos conhecimentos às matérias a ensinar; universalizar o sistema, já que no meu tempo era muito restricto o número de alunos que o frequentavam e o que se pretende é que todos o possam fazer.


A segunda noção é de que a parte mais importante do sistema de ensino é o professor! Ele é a referência e ele tem de ser a autoridade. Isto de se tentar que o “aluno é quem determina” só tem trazido indisciplina, anarquia e falta de respeito ao interior das Escolas, bem como o facilitismo e a falta de exigência na aprendizagem.


Em terceiro lugar há que ter a noção que nem todos os alunos podem adaptar-se ao mesmo sistema e que por isso se deve procurar, dentro do mesmo sitema, uma alternativa para estes casos e não, misturá-los anarquicamente numa sala de aula pois a consequência é por todos conhecida: a bagunça total! Como é possível haver numa sala de aula alunos de 9/10 anos em conjunto com outros de 14/15 e com toda a carga negativa que normalmente estes transportam consigo,  o que faz com que toda a turma seja prejudicada na sua aprendizagem.  Posso contar centenas de histórias a este respeito e todas no mesmo sentido.


Em quarto lugar a desmitificação destes governantes que temos tido, no que se refere à conversa da defesa do ensino público. Faz-me rir estas teorias quando confrontadas com as práticas governativas. Por um lado fecham-se escolas com menos de 20 alunos, o que acho uma boa medida, e por outro pretende-se subsidiar a presença dos alunos no ensino privado, no local onde não há ensino público (em breve até parece que será para ser subsidiado tudo o resto), o que aliado ao facto de as escolas públicas serem obrigadas a aceitar todo o tipo de alunos, só irá contribuir para que cada vez mais escolas privadas apareçam (com os subsídios) já que os pais terão tendência a tirar os seus filhos do ensino onde cabe todo o tipo de delinquência e indisciplina e, assim se diz que se defende o ensino público! E é também assim que se quer comparar os rankings das escolas!


Em resumo e para terminar, direi que não teremos grande futuro como País, se não apostarmos num ensino eficaz e exigente e isso não se consegue da forma em que se está.


Entrada principal do Colégio S. João de Brito