domingo, 5 de janeiro de 2014




NA PRIVADA NÃO HÁ CORRUPÇÃO 


Aqui há uns dias, ouvi na TSF, uma entrevista ao Sr. Alexandre Soares dos Santos, conduzida por João Marcelino e Paulo Baldaia, que por vezes, em vez de serem jornalistas, mais parecem serventuários muito atenciosos dos poderes instituídos. E isto porquê? Porque, nessa conversa/entrevista, a dado passo, entre algumas coisas certas que o entrevistado disse, como por exemplo a defesa das Universidades Públicas e do Serviço Nacional de Saúde, disse também duas enormidades que ficaram sem contraditório por parte dos entrevistadores que, desse modo, como que sancionaram, o que fora dito.
E o que é que foi dito? Passemos, então, à primeira expressão infeliz: “ A gestão privada é geralmente melhor do que a pública, entre outras razões, porque na privada não há corrupção”. Ora bem, depois desta afirmação, nada se passou e a conversa continuou como se nada fosse! Tanto quanto julgo saber, não será um Administrativo a corromper um Director-Geral, não será um Motorista a corromper um Secretário de Estado, não será um Ministro a corromper um Gestor Público.
Ora, como para haver corrupção tem de haver pelo menos duas partes e, dando de barato que uma delas é a parte pública, a outra terá de ser a parte privada. À face da lei, tanto o corruptor como o corrompido são igualmente criminosos. E, se nos reportarmos aos casos mais mediáticos de que a Comunicação Social nos dá frequentes exemplos (Portocale, Freeport, Submarinos, Face Oculta, e outros milhares, sim milhares, de licenciamentos nas autarquias, Braga Parques) a parte privada ocupa sempre o espaço reservado àquele que corrompe.
Isto para não falar dos casos em que só há
espionagem industrial, por exemplo, deixou de existir?

                             




                                                     NA PRIVADA NÃO HÁ GREVES

A segunda afirmação não contraditada foi a seguinte: “A privada gere melhor porque não há greves na privada!” De facto é espantoso! Primeiro, porque na privada também há greves, embora mais raramente e com menor expressão e em segundo lugar porque se elas não têm uma maior expressão, não é seguramente pelo nível salarial que se paga, não é pelas condições laborais oferecidas, não é pelos horários de trabalho que são impostos aos trabalhadores, não é pela carga fiscal de que são alvo, tudo isto fruto da desregulação do mercado de trabalho que tem acontecido. Não, eles quase não fazem greves porque sabem que se o fizerem são despedidos na primeira oportunidade ou os seus precaríssimos contratos de trabalho não serão renovados!
Por outras palavras mais simples. Não fazem greve por medo!
Claro que este parece ser o mundo em que os senhores empresários querem viver e acham que deve ser: dispor do trabalhador a seu belo prazer e de preferência que não faça muitas ondas. Este é de facto o mundo em que tudo é permitido a quem tem o poder do dinheiro. Até um dia…e depois não se queixem!

P.S. – Quanto aos senhores entrevistadores, talvez fosse bom, frequentarem um workshop de actualização em jornalismo, que não lhes ficava nada mal.

Sem comentários:

Enviar um comentário